ACREDITO NA BELEZA...
Não, não estou falando de barriga tanquinho nem de seios
turbinados. Também não estou falando de cabelos alisados e um look da moda.
Estou falando da beleza que vejo quando olha para mim sem medo de ser quem você
é.

Acredito na beleza. Na beleza
de uma frase inteligente. De um olhar curioso diante de um novo saber. De dizer
sim apenas para ver o outro sorrir.
Acredito na beleza das artes. Da filosofia. Do encontro. De uma
música triste num dia de chuva.
Acredito na beleza de uma criança descobrindo o mundo. De alguém
descobrindo a si mesmo. De um amante descobrindo o seu mais secreto e sagrado
nos braços do outro.
Acredito na beleza de uma comida devorada com prazer. De uma
risada inoportuna. Da quebra de um protocolo para ajudar o outro.
Acredito na beleza quando rema contra a maré, contra as
probabilidades, contra as possibilidades. Das confidências ao pé de ouvido. Na
beleza dos olhares de compaixão. Na tepidez da sua voz quando me confessa o
inconfessável.
Acredito na beleza de quando segura a minha mão só para mostrar
que estou segura. Que vejo quando olha para mim sem medo de ser quem você é. De
quando ousa acreditar mesmo sem motivos para isso.
Acredito na beleza dos ingênuos, dos utópicos, dos idealistas.
Daqueles que não tem tudo sob controle nem encaixam a vida em uma planilha. De
quem se admite desesperado e sozinho.
Acredito na beleza do gesto inusitado. Do amor despudorado. Da
entrega incondicional. De quando corre pela rua como se o mundo fosse um parque
de diversões.
Acredito na beleza quando decide recomeçar mesmo sem saber como.
De quando se perde dentro de você mesmo. De quando reencontra-se no outro. De
quando o imaterial é o nosso ouro.
Acredito na beleza da lucidez insana dos bêbados. Da poesia
transcendental dos artistas. Da coragem patética dos apaixonados. Da sanidade
dos loucos. Acredito na beleza do engano. Do improviso.
Acredito na beleza de tudo aquilo que fomos ensinados a não
acreditar. Na beleza de todo amor que fomos ensinados a negar. Acredito mesmo
que não compartilhe da minha crença, da minha ilusão. Acredito como respiro e
sorrio. Como te olho e vejo a mim mesma.
PUBLICADO EM RECORTES POR SÍLVIA MARQUES
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