Findando-se este mês ao qual se
faz analogia à Mulher, escolhi como homenagem extensiva a todas as cidadãs
ilustres guerreiras “cor de rosa choque” o artigo sobre
parte da vida do ícone feminino musical e já feminista no seu tempo remoto e nos
tempos atuais, nada mais que “Chiquinha Gonzaga” como nossa fiel representante!
Aproveito para deixar aqui meu verdadeiro carinho e lisonjeio por todas as mulheres
que aqui se identificam através de suas singulares lutas interiores e
exteriores, e que conseguiram se superar, e transcender a sua realidade
social e amorosa!! “Somos da Lira” (coloquei no plural o título da canção para
abranger nosso gênero) como bendiz em suas canções nossa querida Adriana
Calcanhoto... Mais uma vez PARABÉNS a todas NÓS!!
Sandra Senna
O mês de março é sempre propício à reflexão sobre a participação da mulher na sociedade. E a música popular, como não podia deixar de ser, reflete o padrão de comportamento de sua época. Mas, em vez procurarmos a mulher-tema nas letras de música, que tal lançarmos um olhar para as protagonistas, as criadoras de canções?
Chiquinha Gonzaga
Parcial Biografia
Parcial Biografia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. (editada)
Inicia, aos 11 anos, sua
carreira de compositora com uma canção natalina, Canção dos Pastores. Aos
16 anos, por imposição da família do pai, casou-se com Jacinto Ribeiro do
Amaral, oficial da Armada Imperial, e logo engravidou. Não suportando a
reclusão do navio onde o marido servia, (já que ele passava mais tempo
trabalhando no navio do que com ela) e as ordens dele para que não se
envolvesse com a música, além das humilhações que sofria e o descaso dele com
seu sonho, Chiquinha, após anos de casada, separou-se, o que foi um escândalo
na época.
Leva consigo somente o filho
mais velho, João Gualberto. O marido, no entanto não permitiu que Chiquinha
cuidasse dos filhos mais novos: Sua outra filha, Maria do Patrocínio e do
filho, o menino Hilário, ambos frutos daquele matrimônio. Ela lutou muito para
ter os três filhos juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação
obrigatória dos dois filhos imposta pelo marido e pela sociedade daquela época,
que impunha duras punições a quem desfizesse um casamento.
Anos depois, em 1867, reencontrou seu
grande amor do passado, um namorado de juventude, o engenheiro João
Batista de Carvalho, com quem teve uma filha: Alice Maria. Viveu muitos anos
com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se dele, e mais uma
vez perde uma filha. João Batista não deixou que Chiquinha criasse Alice,
ficando com a guarda da filha. Apesar disso tudo, Chiquinha foi muito presente
na vida de todos os seus quatro filhos, mesmo só criando um deles. Ela sempre
estava acompanhando a vida deles e tendo contacto.
Ela, então, passa a viver como
musicista independente, tocando piano em lojas de
instrumentos musicais. Deu aulas de piano para sustentar o filho João Gualberto
e mantê-lo junto de si, sofrendo preconceito por criar seu filho sozinha.
Passando a dedicar-se inteiramente a música, onde obteve grande sucesso, sua
carreira aumentou e ela ficou muito famosa, tornando-se também compositora de polcas, valsas, tangos e cançonetas.
Antes, porém, uniu-se a um grupo de músicos de choro, que incluía ainda o
compositor Joaquim Antônio da Silva Callado,
apresentando-se em festas.
Envolveu-se com a política,
militando em prol da abolição da escravidão e pelo fim da monarquia. Chamava a
atenção nas rodas boêmias do Rio por ser independente e por fumar em público,
algo que não era considerado de bom tom para mulheres.
Seu
grande e verdadeiro amor
Aos 52 anos, após muitas décadas sozinha, mas vivendo feliz com os
filhos e a música, conheceu João Batista Fernandes Lage, um jovem cheio de vida
e talentoso aprendiz de musicista, por quem se apaixonou. Ele também se
apaixonou perdidamente por essa mulher madura que tinha muito a ensinar-lhe
sobre música e sobre a vida. A diferença de idade era muito grande e causaria
mais preconceito e sofrimento na vida de Chiquinha, caso alguém soubesse do
namoro. Ela tinha 52 anos e João
Batista, apenas 16. Temendo o preconceito, fingiu adotá-lo como filho, para
viver o grande amor. Esta decisão foi tomada para evitar escândalos em respeito
aos seus filhos e à relação de amor pura que mantinha com João Batista, da qual
pouquíssimas pessoas na época entenderiam, além de afetar sua brilhante
carreira. Por essa razão também, Chiquinha e João Batista Lage, ou Joãozinho,
como carinhosamente o chamava, mudaram-se para Lisboa,
em Portugal,
e foram viver felizes morando juntos por alguns anos longe do falatório da
gente do Rio de Janeiro. Os filhos de Chiquinha, no começo, não aceitaram o
romance da mãe, mas depois viram com naturalidade. Fernandes Lage aprendeu
muito com Chiquinha sobre a música e a vida. Eles retornaram ao Brasil sem
levantar suspeita nenhuma de viverem como marido e mulher. Chiquinha nunca
assumiu de fato seu romance, que só foi descoberto após a sua morte através de
cartas e fotos do casal. Ela morreu ao lado de João Batista Lage, seu grande
amigo, parceiro e fiel companheiro, seu grande amor, em 1935, quando começava o
Carnaval. Foi sepultada no Cemitério de São Francisco de Paula,
no Catumbi.
A
carreira
A necessidade de adaptar o som
do piano ao gosto popular valeu a glória de tornar-se a primeira compositora
popular do Brasil. O sucesso começou em 1877, com a polca 'Atraente'. A
partir da repercussão de sua primeira composição impressa, resolveu lançar-se
no teatro de variedades e revista. Estreou compondo a trilha da opereta de
costumes "A Corte na Roça", de1885. Em 1911, estreia seu maior
sucesso no teatro:
a opereta Forrobodó, que chegou a 1500 apresentações seguidas após a
estreia - até hoje o maior desempenho de uma peça deste gênero no Brasil. Em
1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça
"Maria". Foi criadora da célebre partitura da opereta Juriti,
de Viriato Corrêa.
Chiquinha participou ativamente
da campanha abolicionista,
por conta da revolta que sentia por seus ancestrais maternos terem sido
escravos e sofrido muito, e da proclamação da república do Brasil.
Também foi a fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Ao todo,
compôs músicas para 77 peças
teatrais, tendo sido autora de cerca de duas mil composições em
gêneros variados: valsas, polcas, tangos, lundus, maxixes, fados, quadrilhas, mazurcas, choros e serenatas.
Representações
na cultura
Chiquinha Gonzaga já foi
retratada como personagem no cinema e na televisão. Dirigida por Jayme
Monjardim, na minissérieChiquinha Gonzaga (1999),
na TV Globo,
foi interpretada por Regina Duarte e Gabriela
Duarte. No cinema, foi interpretada porBete Mendes,
no filme "Brasília 18%" (2006), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, e por Malu Galli,
no filme O Xangô de Baker Sreet,
baseado no livro homônimo de Jô Soares.
A compositora também foi
homenageada no carnaval carioca, no ano de 1985, com o enredo Abram
alas que eu quero passarpela escola de
samba Mangueira, que obteve a
sétima colocação. E em 1997, com enredo Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar...pela Imperatriz Leopoldinense. A atriz Rosamaria Murtinho, que vivia a artista no
teatro, representou-a no desfile, a escola obteve a sexta colocação.
A
mulher protagonista na música brasileira
Por Daniel Brazil (editado)
A presença das mulheres
na música popular, até meados do século XX, se limitava à função de intérprete.
Os compositores nunca prescindiram do timbre feminino, mas também nunca abriram
espaço para trabalhos autorais das cantoras. A grande exceção é a pioneira
Chiquinha Gonzaga (foto), primeira grande compositora popular e também uma
mulher de atitudes que só muito depois seriam chamadas de feministas. Abre
Alas, sua canção mais conhecida, parece anunciar que a mulher estava chegando
para ocupar seu lugar na MPB.
Ainda assim, a conquista
de espaço foi lenta e difícil. As primeiras mulheres compositoras dedicavam-se
à música instrumental. Muitos choros, valsas e polcas para piano foram
compostos por mulheres na primeira metade do século XX. Certamente a primeira
grande compositora de canções – letra e música – foi Dolores Duran, nos anos
50. Além de boa cantora, era letrista inspirada e teve parceiros como Tom
Jobim e ficou eternizada por canções como A Noite do Meu
Bem e Estrada do Sol.
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Não podemos esquecer aqui as mulheres que muitas vezes foram eclipsadas pelo talento de seus parceiros. Almira e Jackson do Pandeiro assinaram várias composições, e foram uma dupla do barulho nos anos 40 e 50. Hoje só se fala de Jackson... Um fenômeno semelhante ocorre com Anastácia e Dominguinhos, que criaram juntos mais de 200 canções. Anastácia, autora de Só Quero um Xodó, entre tantos sucessos, tem reconhecimento regional, mas nacionalmente é comum as pessoas se lembrarem apenas de Dominguinhos. O velho machismo ainda deixa marcas fáceis de detectar.
Não podemos esquecer aqui as mulheres que muitas vezes foram eclipsadas pelo talento de seus parceiros. Almira e Jackson do Pandeiro assinaram várias composições, e foram uma dupla do barulho nos anos 40 e 50. Hoje só se fala de Jackson... Um fenômeno semelhante ocorre com Anastácia e Dominguinhos, que criaram juntos mais de 200 canções. Anastácia, autora de Só Quero um Xodó, entre tantos sucessos, tem reconhecimento regional, mas nacionalmente é comum as pessoas se lembrarem apenas de Dominguinhos. O velho machismo ainda deixa marcas fáceis de detectar.
Na música caipira, o cenário é
ainda mais inóspito. Mas outra pioneira, a sempre atenta Inezita Barroso, grava
um LP em 1958 somente com composições de mulheres. Uma delas, Zica Bergami, é
autora de um de seus sucessos mais emblemáticos: Lampião de Gás. Gravou também
obras de Lina Pesci, outra prolífica compositora paulista de choros, valsas e sambas-canção.
A década de 60 viu a
consagração da bossa nova, o surgimento da canção de protesto, da Tropicália, e
o ressurgimento do samba de raiz, que na década anterior fora submergido pelo
samba-canção radiofônico. Nos grandes festivais começaram a surgir novas
compositoras, como Tuca, Rosinha de Valença e Joyce. Esta última, que lançou
seu primeiro disco em 68, compôs bem depois uma música que se tornou quase um
hino feminista. A bela Feminina, gravada em 1980, é um marco, e talvez seja a
primeira música a explicitar uma nova voz no leque temático brasileiro.
Ó, mãe, me explica, me ensina,
me diz o que é feminina...
No mundo do samba, as mulheres
também vieram lentamente conquistando seu espaço como protagonistas. Dona Ivone
Lara, nascida em 1921, se tornou a primeira mulher autora de um samba enredo
quando fez para a Império Serrano “Os Cinco Bailes da História do Rio” (1965).
Autora de grandes sucessos como Acreditar e Sonho Meu, viu surgir outra
compositora, com perfil mais feminista e politizado, na ala de compositores da
Mangueira na década de 70: Leci Brandão.
Sob a influência da década
anterior, os anos 70 viraram a época do desbunde, da liberação sexual. Cada vez
mais a mulher conquistava espaços que antes eram interditados. No Brasil sob
ditadura, não se podia falar de política nem criticar o governo, mas ousava-se
cada vez mais ao falar de sexo. Em 78 o Brasil inteiro cantava com as
Frenéticas: “Eu sei que eu sou/ bonita e gostosa...” e o refrão “”...dentro de
mim”. Mas ainda era uma canção escrita por homens, para mulheres cantarem.
Provavelmente a canção que
realmente colava na cabeça das meninas era Ovelha Negra, de Rita Lee. Esta sim,
abordou temáticas femininas de forma pioneira, falando de coisas que ninguém
colocava em música, como menstruação ou menopausa. Não à toa, já no ano 2000,
emplacou o que talvez seja o maior hit feminista de nosso tempo, que é Pagu.
Nem toda brasileira é bunda, meu
peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem!
Rita Lee reafirmou a postura de
questionamento do papel e comportamento da mulher (e do homem) em várias outras
canções. Os puristas da MPB guardam certa distância dela não por isso, mas por
ser considerada roqueira... Já a canção popular mais “brasileira” assistiu nos
anos 70/80 ao surgimento de uma geração contemporânea de Rita Lee que em maior
ou menor medida colocaram uma voz feminina nas composições. Sueli Costa, Marlui
Miranda, Luli e Lucina, Kátia de França, Angela Roro, , Zelia Duncan, Vange
Leonel, Paula Toller, Marina Lima... Marina, aliás, tem uma canção chamada O
Lado Quente do Ser, e que começa com os versos “Eu gosto de ser mulher...”. A
letra é do Antonio Cícero, irmão de Marina, mas a identificação com o universo
feminino é total, foi gravada até pela diva Maria Bethania.
Um grande talento dessa geração
é Adriana Calcanhoto, que cria com competência desde música infantil até
baladas de sabor folk. Adriana compôs um belo samba dolente que é um retrato da
mulher liberada do século XXI. Gravado por outras cantoras/compositoras, como
Marisa Monte e Tereza Cristina, Beijo Sem é o retrato de uma nova mulher, que
proclama sua independência e livre-arbítrio.
Eu
não sou mais
Quem
você
Deixou
Amor (de ver)
Amor (de ver)
Vou
à Lapa
Decotada
Bebo todas (viro outras)
Bebo todas (viro outras)
Beijo
bem
Madrugada
Sou da lira
Sou da lira
Manhãzinha
De ninguém
De ninguém
Noite
alta
É
meu dia
E
a orgia
É
meu bem.
O
verso “sou da lira” remete a Chiquinha Gonzaga, claro. É como se a nova
compositora estendesse a mão para a pioneira e dissesse “estamos juntas, somos
da mesma lira”.
E as cantoras/compositoras das
gerações seguintes já incorporam com naturalidade essa postura de
independência, de atitude perante o mundo. Não necessariamente são feministas,
mas certamente femininas, acrescentando nuances ao nosso cancioneiro. Nomes
como Alzira Espíndola, Ceumar, Céu, Socorro Lira, Mariana Aydar, Anelis
Assumpção, Iara Rennó, Ana Costa, Antonia Adnet, Tiê, Karina Buhr, Manuela
Rodrigues, Andreia Dias, Tulipa Ruiz e mais uma constelação. Sinal dos tempos.
Falar de mulher-compositora hoje é correr o risco de omitir nomes...