Contos e Poesias: DEZOITO VIDAS SALVAS

Contos e Poesias: DEZOITO VIDAS SALVAS: Carlos de Sena
Ele teve uma infância muito ativa. Morava numa roça cheia de árvores frutíferas e grande área para correr, jogar bola, brincar de picula, em...

Mais uma letra líndíssima de música para reflexão... Paz e Luz a todos visitantes!! Agradecida sempre!

"Música linda, ele mostra como no passado os índios foram enganados, e tivemos a pureza do nosso Brasil corrompido, destruído, e hj demonstra a tristeza q toda essa enganação e exploração causaram, isso afeta o povo brasileiro até hj, e o pior é q atualmente somos explorados pelo nosso próprio povo, antes o desrespeito vinha de fora, e hoje o desrespeito vem de dentro do País, dos nossos governantes".

Fonte(s): Yahoo

E por falar em boa música e no que a mesma deixa como mensagem, vamos ao significado de uma das que consideramos eternizadas pelo teor de sua letra..."O Bêbado e a Equilibrista"


O Bêbado e a Equilibrista (Significado da letra)

Mensagem por ClaudioBass em Ter Fev 22, 2011 9:18 am
Interpretação: Sara Seadi e João Bosco
 
O Bêbado (1- O bêbado representa os artistas, poetas, músicos e "loucos" em geral, que embriagados de liberdade ousavam levantar suas vozes contra a ditadura.)

e a Equilibrista (2- A equilibrista era a esperança de democracia, um projeto de abertura política gradual, que a cada "eleição", a cada evento que incomodava os militares (passeatas, etc), tinha sua existência ameaçada.)

Caía a tarde feito um viaduto (3- Um viaduto, obra do governo, caiu, desabou sobre carros e ônibus cheios de pessoas, matando muita gente. Na época, nada pôde ser noticiado nem as pessoas foram devidamente ressarcidas ou indenizadas. Cidade de Belo Horizonte, viaduto da Gameleira, década de 70. )

E um bêbado trajando luto (4- Referência aos militantes de esquerda que foram "sumidos" ou declaradamente assassinados sob tortura.)
me lembrou Carlitos

A lua (5- A lua representa os políticos civis que se colocaram a favor do regime, a fim de obter ganhos pessoais. Eles "acreditavam" tanto na propaganda oficial que se dizia que se um general declarasse que a lua era preta eles passariam a defender tal tese como verdade absoluta. Em determinada época foram até chamados de luas-pretas.)

tal qual a dona do bordel (6- A Câmara de Deputados e o Senado foram algumas vezes comparados a bordéis devido aos negócios imorais que lá se faziam. É claro que os cidadãos indignados não podiam dizer claramente que pensavam isto, ou seriam no mínimo processados por calúnia, injúria, difamação e etc.)

Pedia a cada estrela fria (7-As estrelas são os generais, donos do poder. Alguns deles nunca apareceram como governantes, preferindo manipular nos bastidores. Se contentavam com uns poucos privilégios astronômicos e umas ninharias de cargos de direção em estatais ou o poder de nomear umas poucas dezenas de parentes e correligionários em empregos públicos.)

um brilho de aluguel (8- O brilho de aluguel era, como mencionado acima, os ganhos pessoais e até eleitorais obtidos pelos civis que aceitavam ser marionetes. Alguns destes civis cresceram tanto que altrapassaram em poder os seus "criadores" fardados.)

E nuvens (9- Os torturadores são aqui comparados a nuvens, pois eram intocáveis e inalcançáveis.)

lá no mata-borrão(10- O mata-borrão é um instrumento antiquado destinado a eliminar erros, borrões na escrita. O DOI-CODI, nossa temível polícia política da época era o mata-borrão do regime (instrumento antiquado destinado a eliminar erros).)

do céu (11- As prisões eram inalcançáveis ao cidadão comum, inacessíveis, por isso a comparação com o céu. )

Chupavam manchas (12- Os rebeldes são comparados a manchas, ou seja um erro na escrita, uma coisa fora da ordem, uma indisciplina.)

torturadas (13- Referência à tortura aplicada aos militantes de esquerda, que ocorria às escondidas. O regime jamais admitiu que torturava pessoas, porém nunca houve punições aos casos que conseguiam alguma divulgação, apesar da censura à imprensa.), que sufoco louco

O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil (14- Os artistas nunca se calaram. Esta música, ele própria é uma das irreverências.)

Pra noite do Brasil (15- Um tema recorrente nas músicas da época. A volta das liberdades políticas é comparada ao amanhecer, bem como a ditadura é comparada à noite.),
meu Brasil

Que sonha com a volta do irmão do Henfil (16- O Henfil (Henrique Filho) era um afiadíssimo cartunista político muito visado pelo regime, bem como seu irmão o Betinho, que no governo Fernando Henrique organizou o programa de combate à fome. Os dois eram hemofílicos e morreram de Aids.)

Com tanta gente que partiu (17- Referência aos exilados políticos.)
num rabo-de-foguete

Chora a nossa pátria mãe gentil

Choram Marias e Clarices (18-Maria é a esposa do operário Manuel Fiel Filho morto sob tortura nos porões do DOI-CODI (SP) em janeiro de 1976 e Clarice é a esposa do jornalista Wladimir Herzog, também morto sob tortura, no DOI-CODI (SP) em outubro de 1975.)
no solo do Brasil.

Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente
A esperança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar , a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar.

_

Impacto da música baiana na transformação da moral social: reflexões filosóficas

É perceptível e observável que a música como manifestação natural sempre esteve presente em todas as culturas e civilizações. Desde o princípio dos tempos ela tem sido expressão do ser humano enquanto produtor e produto da mesma, demonstrando experiências individuais e coletivas no campo do comportamento, costumes e hábitos.
 
A música assemelha-se à linguagem: ela diz algo frequentemente humano. Os sentimentos despertados pela música podem levar à percepção e despertar a compreensão do ser humano quanto ao viver, estar e pertencer ao mundo, a partir dos efeitos emocionais e psicológicos do existir e do interagir em sua forma integral.
 
Porém, diante da constatação factual de que a cultura musical baiana de massa – caracterizada por estilos de música como “Axé” e “Pagode” –, construída, desenvolvida, midializada, mantida e explorada pela indústria cultural na atualidade, circula em todos os ambientes sociais, tempo em que manifesta como resultado, através de algumas atrações deste seguimento, uma ausência de razão, bom senso e boa intenção, caracterizada, inclusive, pela falta de moral, ética e estética, nos leva inclusive, a observar na sociedade um evidente “apagão” de experiências honradas, no que diz respeito à concepção da “arte da música” como elemento transformador da consciência do ser humano, quer seja no campo individual, quer seja para a coletividade; pois é flagrante a presença de um discurso de massa alienado na música baiana, revestido por uma harmonia pobre e repetitiva, ainda que decorada com um excesso de fragmentos percussivos para a promoção do “balanço”, do “molejo”.
 
É claro o objetivo da música de massa: estimular no ser humano movimentos frequentes nos punhos e na cintura, o que o filósofo Platão chamaria de estímulo às “almas irascíveis e do apetite”, disseminando claramente a violência e a volúpia, contribuindo, finalmente, com o processo do consumo e do comportamento alienado.
 
Assim, se torna cada vez mais evidente o quanto a música baiana de massa vem dando demonstrações da promoção da agressividade e da erotização precoce na juventude, de modo que não se pode precisar a que fim isso possa chegar. Por isso, diziam os antigo,  quanto mais ruidosa é a música, tanto mais melancólicos se tornam os homens, tanto mais decadente o país.
No entanto, cumpre considerarmos que, uma vez identificadas as consequências da agressividade e erotização precoce provocada pela música, torna-se evidente a imperiosa necessidade de tentarmos contribuir para reverter a ampliação do caos, contendo e/ou minimizando tal problema, através de uma proposta de Educação que utilize o real da música, sua magia, harmonia, ritmo e discurso, pois a música enquanto discurso, linguagem e expressão do ser humano, poderá contribuir para a manifestação das Virtudes ou dos Vícios.
 
Tanto a boa música produz um bom caráter, como um bom caráter produz uma boa música, em uma dialética ascendente, pois, quando o ser humano, enquanto artista/músico usa o ignóbil como base de suas ações/canções do seu dia a dia de relações/composições, demonstra haver em si a falta de grandeza, graça e gratidão significativas, e, na sociedade: produz a incisiva quebra de valores nobres; fomenta a dúvida do valor de toda experiência honrada na música; dá margem para o uso da falta de razão, bom senso e boa intenção na cultura; bem como fomenta a fragmentação de toda educação da espécie. E não é isso que queremos ver florecer na sociedade.
 
Já tivemos, na nossa própria história, exemplos honrados na musicalidade baiana, como Moraes Moreira, Armadinho Macêdo, Aroldo Macêdo, representantes da geração do Trio Elétrico Dodô e Osmar, que transmitiam um sentimento de liberdade, entusiasmo e alegria contagiantes, principalmente na década de 1970, quando o carnaval já era considerado o grande fenômeno produzido pela música espontânea na Bahia, ou seja, música produzida por um espírito livre e de simplicidade autêntica, capaz de conduzuir uma multidão de maneira a promover a alegria e a ordem desprovida de interesses financeiros, ao contrário dos dias de hoje em que promovemos a euforia e a desordem, com fins mercadológicos, e pior, em nome da promoção da alegria. 
Verificamos dois claros exemplos da música espontânea com discurso em prol da ordem, trabalhadas pelos artistas supracitados: “A bordo dessa marcha lenta a gente se orienta, no passo, aqui quem erra, é por escolha.” (Aroldo Macedo, Abordo de 85, 1984, Trio Életrico Dodô e Osmar). Essa música tem um forte apelo à ordem, à unidade de comportamento, dando direcionamento, ritmo e pulsação com expressão de alegria. “Não nego tirei a máscara, que até agora escondeu meu sentimento: a mais rara das jóias que Deus me deu.” (Mores Moreira e Aroldo Macêdo, Vida e Carnaval 1980, Trio életrico Dodo e Osmar). Neste segundo exemplo, percebemos um discurso que arremessa o sujeito pensante, ainda que entretido, à concepção reflexiva de disposição de caráter, valorando a dimensão intrapessoal do ser, o sentimento. Por fim, vemos em Moraes Moreira um grande “toque” no sentido de não transformar alegria em euforia: Outro exemplo: “Carnaval não brigo, carnaval eu brinco, desabafo com amor a minha dor, alegria desafia a violência.” (Osmar Macêdo e Moraes Moreira, Alegria desafia a Violência - Taiane, 1980).
 
Tivemos também como produto desse entusiasmo peculiar da época o movimento da Tropicália, com músicas permeadas por um forte discurso transformador, revolucionário, político e questionador daquela realidade, a nós presenteadas por muitos artistas, tais como: Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Este último consagradamente representa em si a grande capacidade sintética de usar ritmos, harmonia e discursos para uma construção moral de uma ética humanista e libertadora, com, por exemplo, suas obras musicais “Se eu quiser falar com Deus” e “Realce” com as quais este artista arremessa o sujeito pensante às mais profundas reflexões da Vida.

A partir dos anos 1980, a onda da indústria cultural começa a agir e a interagir de maneira mais forte com a nossa cultura musical, criando um novo conceito para nossa música espontânea, o “Axé Music”; e, com isso, o fetichismo se instala. Inicialmente, nos convida, enquanto ouvintes, aos mesmos ideais de alegria existentes fortemente até aquele momento, porém com um dircurso que buscava definir a Bahia como uma referência turística; e a nossa música passa a ser mera ferramenta publicitária para este fim.

O conceito Axé Music tem um estilo marcado por canções fáceis, curtas, animadas e que fazem alusões recorrentes ao sol, às praias e às belezas naturais de Salvador, da Bahia, do Brasil e, é claro, ao carnaval. Uma mistura de sons, compassos e coreografias – Abandonando o a riqueza do discurso aprofundado, pacifista e ordeiro da geração anterior. “Um gênero composto por guitarras, baterias, teclados, violão e, principalmente, percussão. Eclético e, ao mesmo tempo, com um ritmo próprio e único. As melodias são quase sempre associadas ao verão e à sensualidade baiana.” (MOURA, 2001, p. 215 apud SILVA, 2009, p.16). 
Um dos resultados deste modelo é a construção de um discurso unidimenciolnal, horizontal, sem nenhum complemento filosófico, fazendo com que os ouvintes se tornem meros consumidores passivos que não exercitam nenhuma crítica ao padrão estético que tenta ser globalizado.Tal modelo exerce fascínio com um pretexto de ser uma canção prazerosa divertida e inocente; porém tal apelo, com suas variantes, exerce forte coercitividade, fazendo com que, gradativamente, o prazer ingênuo se torne volúpia no ser humano e se amplie como lascívia na sociedade.
 
Contudo, fica evidenciado que nos ultimos anos a nossa música passou a ser pano de fundo a serviço do entretenimento mercadológico. Pois a música que era de um caráter divertido e reflexivo passa a ser apenas uma música meramente divertida, comprometida com a distração; portanto, alienada em si mesmo, pois assume ela em toda parte, e sem que se perceba, o trágico papel que lhe competia ao tempo e na situação do cinema mudo.
 
Se perguntarmos a alguém se “gosta” de uma música de sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e o não gostar já não correspondem ao estado real, ainda que a pessoa interrogada se exprima em termos de gostar e não gostar. Em vez do valor da própria coisa, o critério de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser conhecida de todos; gostar de um disco de sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo.
 
Uma música sem dicurso, sem questionamento, é mera decoração superficial de um produto a serviço da lucratividade dos ditos empreendedores da música de entretenimento da cena cultural baiana. Esse padrão musical atuante, que se repete até os dias de hoje, produz a aniquilação do gosto pela sabedoria na música.
 
Concluímos, então, dedutivamente, que, na atualidade, a falta de educação na música considerada de massa, aqui entendida como “Axé” e “Pagode”, recebeu influência direta do processo histórico da falta da música na educação, pois, com efeito, a música atual, na sua totalidade, é dominada pela característica de mercadoria, tornando-se efêmera, fugaz e de gosto duvidoso. 
Assim, fazendo uso da clareza da razão, é possível afirmarmos que a inserção da música na educação não é mais uma opção disponivel, mas sim uma imposição necessária, definida, inclusive, por lei (a Lei 11.769). Acredito que se essa Lei for bem aplicada, não precisaremos da Lei anti-baixaria.
 
* Gel Varela  é diretor da Fundação Ocidemnte – Organização Cientifica de Estudos Materiais Naturais e Espirituais e Assessor da Secretaria de Educação de Lauro de Freitas.    

Baile das Milcaretas no Projeto Operárias da Arte!! Não deixem de visitar a página de fotos desse blog. Paz e Luz para todos!

A tendência de apresentar trabalhos coletivos tem se tornado uma prática comum entre vários seguimentos. Na arte isso não é diferente, essa atitude possibilita para os artistas e produtores a realização efetiva do trabalho, e para o público a possibilidade de ver verdadeiros espetáculos que aglutinam talentos e trabalhos que permanecem registrados nas memórias e nas emoções das pessoas. Cruz das Almas (Ba), e mais precisamente a Fundação Galeno D´Avelírio está antenada a esta tendência, e desde que apresentou ao público pela primeira vez em 2010 o show “Operárias da Arte” vem colhendo os frutos desta atitude e disponibilização de músicos, produtores e cantoras da cidade.

Tudo começou com a reunião de músicos cruzalmenses e sete cantoras em homenagem às mulheres. Já estiveram no palco da Casa da Cultura por três vezes, uma delas homenageando a cantara Alba Regina e outra vez a apresentação aconteceu com o convite da TVE Bahia, com transmissão ao vivo pela TV, direto de Cruz das Almas.

No dia 13 de abril de 2012, Sandra SennaCassia MariaMeyre KalRavah Assis, Ura (Uélita Silveira), Alana Sena e Geysa Coelho, que fizeram a formação principal do show “Operárias da Arte”, terão como novas integrantes da trupe de divas as cantoras Graça Sena e Kareen Couto, e o coletivo contará desta vez com nada mais que nove divas.

As artistas apresentarão o Baile de Mil Caretas, e o público terá direito a uma máscara para curtir o show “Operárias da Arte na Folia”. No palco da Casa da Cultura Galeno d’Avelírio uma noite que trará artistas promissoras da nova geração e grandes nomes da música local e regional. Ao lado delas, além dos músicos de primeira que as acompanharão, ainda sobem ao palco o guitarrista Robertinho Lagoe o cantor Rogério Lima. No repertório marchinhas de carnaval e canções da axé-music que foram sucesso nos anos 80.

O quê: Baile de Mil Caretas – Operárias da Arte na Folia
Com quem: Sandra Senna, Cássia Maria, Meyre Kal, Ravah Assis, Ura, Alana Sena, Geysa Coelho, Graça Sena, Kareen Couto. Parc. Robertinho Lago e Rogério Lima.
Onde: Casa da Cultura Galeno d”Avelírio – Rua XV de novembro, 56, Centro, Cruz das Almas – Ba
Quanto: R$5,00
Quando: 13 de abril de 2012 (sexta) às 20:30h

Meyre Kal
8177-6768

Wagner Gomes
wagnerdecruz@yahoo.com.br
ADM.
DE EMPRESAS
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PRODUÇÃO CULTURAL
Banda Coro de Cor - www.corodecor.com.br
Meyre Kal e Forró Beiju de Coco - http://meyrekal.blogspot.com

CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER: Salvador ganha revista voltada para cultura baiana independente

CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER: Salvador ganha revista voltada para cultura baiana independente

Bethânia provoca críticos... Cantora está lançando um novo álbum depois de um ano da polêmica causada pela liberação de verbas pela Lei Rouanet....

    Ela diz que é uma carta de amor. Trata-se, de fato, do único momento vibrante de um álbum de modos menores, por vezes depressivos, que a cantora batizou "Oásis de Bethânia". Em seu novo disco, a baiana Maria Bethânia reservou para o quase final a faixa "Carta de Amor", escrita por ela sob melodia do compositor de sambas de amargor Paulo César Pinheiro. Atrás do nome inofensivo, oculta-se talvez o mais monumental canto de ódio da história da música brasileira.
    A suíte de sete minutos de duração intercala textos declamados com trechos em clave de samba de roda, todos eles de prumada no mínimo ameaçadora. "Não mexe comigo/ que eu não ando só", diz o refrão mais constante, cantado por ela em falsete fantasmagórico. "Não ando no breu/ nem ando na treva/ é por onde eu vou que o santo me leva." "Eu não provo do teu fel/ eu não piso no teu chão/ e para onde você for/ não leva meu nome, não." "O que é teu já tá guardado/ não sou que vou lhe dar." Amor? Só se for no registro do sarcasmo.
    Na parte falada, Bethânia atira-se ao fervor religioso, num chamamento sincrético a toda e qualquer entidade, humana ou inumana, que a possa proteger: Zumbi, Besouro, o chefe dos tupis, tupinambá, erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura, morubixabas, cocares, arco-íris, zarabatanas, curare, flechas, altares, o escuro da mata escura, o breu, Jesus, Maria, José, todos os pajés, o menino-Deus, o poeta, a rainha do mar, o baile das ondas, o ouro de Oxum, o raio de Iansã, o Cruzeiro do Sul, a tocha da fogueira de João, as Três Marias, o esplendor das nebulosas, a forja de Ogum, o calor da lava dos vulcões de Xangô, Marta, Lázaro, a palma da inspiração de Caymmi, o terço de Fátima, o cordão de Gandhi, o oásis de Bethânia. O céu de Suely?
Se amor e fervor se entrelaçam nos chamamentos, a explosão de rancor está por vir, e extravasa os refrões rumo ao texto cuspido. "O veneno do mal não acha passagem em meu coração." "Medo não me alcança, no deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo." "Onde vai, valente? Você secou, seus olhos insones secaram. Não veem brotar a relva que cresce livre, verde, longe da tua cegueira." "Ninguém te escolhe, você pisa na terra mas não a sente, apenas pisa, apenas vaga sobre o planeta." "Você é o oco do oco do oco do sem-fim do mundo." "Eu posso engolir você, só pra cuspir depois."
    O endereço da canção pertence ao universo íntimo da poeta, não nos é dado conhecê-lo. Nos resta especular. Dirige-se a um ex-amor? A algum inimigo dentro ou fora da música? À política? Aos críticos musicais? À mídia voraz e onívora que arrasou com o projeto de poesia pelo qual a artista fora premiada com o direito de captar patrocínios com apoio estatal? A quem afinal Bethânia estaria desejando tanto fel vestido de bem, tamanho ódio travestido de (carta de) amor?
Se não é possível saber ao certo, é de todo modo curioso este momento da MPB dita histórica, da geração de Bethânia. Em anos recentes, gente como Caetano Veloso, Rita Lee e Gal Costa tem se esmerado em produzir canções-desabafo, quando não de rancor, sob nomes como "Odeio", "Minhas Lágrimas", "Perdeu" (Caetano), "Tudo Vira Bosta", "Se Manca", "Tão", "Reza" (Rita), "Tudo Dói", "Sexo e Dinheiro" (Gal), "Lágrima", "Calúnia", "Carta de Amor" (Bethânia).
Há uma dimensão trágica por trás dessa rabugice por vezes quase simpática. Em geral a música pop finge, o tempo todo, a felicidade, a bondade, a magnanimidade, o espírito otimista por cima de tudo, quando muito fossa e tristeza resignadas. Para dizer que odeia tanto quanto qualquer mortal, o pop star tem de dizer que ama, como faz Bethânia em sua "Carta de Amor".
    Na dimensão específica da MPB atual, devorada pela indústria fonográfica e autodevorada pelo Ecad, o veneno atirado de modo por vezes vomitado pode guardar um sentido suicida, de raiva mal oculta pelo freguês que, supostamente, deveria ser apenas mimado e bajulado. E se o objeto dos xingos de Bethânia for afinal seu ouvinte, cada um de seus fãs, o sujeito para quem ela está cantando este disco, você e eu?
Sorte, se for assim, é que o texto-poema iracundo cede à dureza e à ilusão de onipotência por pelo menos um curto momento. Acontece no seguinte trecho, inicialmente gélido, mas afinal confessional: "Se choro, quando, choro, e minha lágrima cai, é pra regar o capim que alimenta a vida. Chorando eu reforço as nascentes que você secou". Talvez nós (e não ela mesma) tenhamos secado as nascentes da diva, e isso não é doce de ouvir. Mas, por mais sobre-humana e inatacável que deseje transparecer, Bethânia (e com ela a MPB) tem vontade de chorar. E chora. Rega capins épicos quando chora. Mas chora.
    Talvez, escondida atrás da raiva (e dos milhões de discos que já lhe compramos), exista mágoa. Feras ferozes, feras feridas, feras magoadas — nossos ídolos seguem exigindo desesperadamente nosso amor, não importa quanto já tenhamos lhes dado. Apesar do susto de ouvir a "Carta de Amor" de Maria, é bom poder encontrar um recanto, ainda que pequeno, onde ela se confesse simplesmente carente de nós.