Título em Português “Antes de Amanhecer”
Vencedor
do Urso de Prata no Festival de Berlim, em 95.
Por: Roberto D´arte (linhas vermelhas em itálico editadas por mim)
Entre
as surpresas reservadas para cada um ao longo da vida, nenhuma consegue marcar
mais do que um encontro amoroso fortuito. Esse tema, por mais batido que seja
na literatura, cinema ou televisão, sempre consegue tocar as pessoas,
principalmente se for trabalhado de um jeito simples e eficiente. E é
exatamente o que revela o filme "Antes do Amanhecer", de Richard
Linklater, que tem uma ótima atuação dos jovens atores Ethan Hawke e Julie
Delpy.
É uma história de amor leve, contada de forma simples e
recheada por uma bela fotografia de paisagens européias, principalmente de
Viena. Tudo começa em uma viagem de trem (naquele que atravessa grande parte da
Europa) com um encontro entre os personagens Jesse e Celine. Ele, um americano
de visão racional das coisas, decepcionado com o último relacionamento; ela,
uma estudante francesa romântica e independente, que volta das férias para
Paris. Após
os primeiros olhares e conversas triviais, que servem para aproximá-los e
levá-los ao vagão-restaurante, inicia-se uma relação que está marcada para
durar apenas uma noite. O desenrolar do enredo se dá a partir de uma proposta
inusitada feita por Jesse, que, claro, não vou contar aqui para depois não ser
chamada de chata.
O tempero de
Antes do Amanhecer é feito de ingredientes perfeitamente identificáveis por
qualquer pessoa. As sintonias e choques de visões de mundo entre dois
desconhecidos colocam em confronto razão e emoção, que terminam por convergir
para amor, desejo, amizade, para a poesia do primeiro encontro. O momento
mágico do ansiado beijo após longas conversas, o medo de ver uma realidade se
confundir como um sonho que se acaba a distância física anunciada, a
efemeridade da vida, a dor da despedida... Tudo isso numa só experiência, que
pode ser deixada prá trás, mas nunca esquecida.
Vários temas são
abordados como morte, vida, amor, amizade e tudo com um clima de romance tão
delicioso e inteligente.
O filme aposta tudo
em seus diálogos. Com uma naturalidade impressionante, contando
com personagens principais grandiosos, iluminados e interessantes, os atores se
debruçam no texto de Kim Krizan e Richard Linklater, que também dirige, e
emprestam seu entusiasmo e inconsequência juvenis as palavras que dizem. Mesmo
não havendo ação ou grandes eventos – na verdade, nada acontece, eles apenas
conversam e conversam -, há algo vibrante e vivo permeando todo o longa.
Ao longo do filme, os dois dialogam quase
parecendo que procuram colocar em dia a conversa dos anos que perderam por não
se conhecerem. Diálogos simples e profundamente humanos, que vão desde o mais
banal ao mais profundo dos temas, entre Celine e Jesse em que ao mesmo tempo em
que o relógio avança e estes sabem que dentro de pouco tempo se vão separar.
Os dois complementam-se e
complementam-nos, apaixonam-se e apaixonam-nos. Ao longo de hora e meia onde
acompanhamos Celine e Jesse por Viena e viajamos com estes por esta cidade
cheia de História e de diálogos magníficos, e momentos memoráveis, é nos apresentado
de forma bela e aparentemente lenta, como que nos convidando a acompanhar e
embrenhar na viagem dos protagonistas, enquanto assistimos passivamente ao
nascimento do amor entre ambos e aos momentos memoráveis que protagonizam.
É uma ode ao cinema e ao amor, uma obra
profundamente terna e romântica, que convida o espectador a partilhar momentos
únicos de um casal que fica marcado na nossa memória.
Exatamente duas partes do filme me tocaram em particular.
A primeira é quando Celine consegue definir, numa frase em meio à conversa, todo o significado e dimensão que podem
caber num encontro: "se Deus existe, ele não está em nós. Nem em você, nem
em mim, mas no espaço que nos separa. Se há algum tipo de mágica, ela está na
tentativa de entender e compartilhar...". A segunda parte
sensibilizou-me no momento da despedida em que eles questionam se irão tornar a se reverem em 5 anos, 1 ano ou 6 meses
pelo fato da distância física entre os dois, mas que nem mesmo isso nem o
tempo poderá apagar o sentimento único de amor poderá impedir o reencontro.
Ah, ia esquecendo-me de informar aos meus leitores blogueiros que em
2004, foi lançada a continuação, Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset), dessa vez em Paris, onde Jesse estava na cidade
onde Celine vivia, para o lançamento de seu livro, e eles tiveram a oportunidade
de reviver e relembrar o dia em que estiveram juntos há 9 anos atrás, e
discutindo a busca incessante de um pelo outro.
Fica a dica! Espero que
gostem!