Vanessa da Mata tem a habilidade de invocar, a cada novo disco, um mundo de pássaros, namorinhos, flores e memórias familiares muito característico. Essa “bolha” criada pela cantora, que resgata casos e histórias, já é uma marca registrada sua.
Porém em Segue o Som, seu novo álbum, parece que sua fortaleza de coisas boas foi um pouco agredida. E o que abalou o cotidiano tranquilo da artista, que tinha beijos intermináveis que faziam os olhos mudarem de cor, meninos andando de bicicleta e bolos de vó? Ela mesma enfileira vários motivos, como a ganância, o consumismo e a “plastificação” dos sentimentos atuais.
É contra essas coisas, que testam nossa “dignidade, inteligência, caráter e persistência” que Vanessa versa em quase todo o compacto. Apontando as mazelas que tornam o homem cada vez menos “humano”, ela oferece sua música e um certo otimismo para recuperar o que realmente importa, como já escancara o primeiro single homônimo: “Segue o som, pense um pouco no que está fazendo. Vamos ver a vida, um momento é apenas um momento”.
E seguir o som da cantora é mesmo muito fácil. Cheia de positividade, ela faz isso transparecer também nas melodias, que contam com elementos diversos, que vão do reggae, passando por ecos da jovem guarda, até certa influência do axé. São vários caminhos sonoros, que fluem de forma leve como pede a mensagem que ela leva, e fazem muito sentido colocados num único compacto.
Chamando a atenção para os problemas supracitados há Ninguém é Igual a Ninguém – onde a cantora diz que consegue se impor mesmo diante de amores e sorrisos falsos ao seu redor. Na sequência, Homem Invisível na Cidade Invisível, que começa com o som fantasmagórico de um órgão, propõe, numa letra meio clichê, que da vida nada se leva, apenas a poesia. Destaque para a interpretação de Vanessa, que com um tom delirante, diz que somos formados de “amor, raiva, prótons, nêutrons e física quântica”, soando como uma profetisa delirante que deixaria Raul Seixas orgulhoso.
Há outras faixas nessa linha, como Homem Preto – em que um personagem intrigante interage com a cantora, trazendo mudanças ao seu interior -, mas é quando a artista decide que vai estampar toda sua alegria no disquinho que surgem os momentos mais memoráveis. Por Onde Ando Tenho Você é um dos melhores exemplos. Num pop radiofônico e contagiante, Vanessa diz que há algo de seu amado em toda parte que olha – e apesar de parecer piegas falando assim, o resultado é muito mais animado do que parece. Ao vivo, provavelmente será uma faixa ainda mais imperdível, com seu “ôôô ôô ô” cantado pela platéia.
Com vinhetinha de introdução cafona e um clima carnavalesco, Se O Presente Não Tem Você também contagia. É uma canção que incentiva o ouvinte a agarrar a oportunidade que tem logo que ela surge. No caso da moça, ela fez isso com um affair: “Quando te vi pertinho de mim, sem ser meu, andando na rua/ Tive um déja vu de como eu seria melhor sendo sua”, ela diz, e seguindo o ritmo do que parece ser um grande bloco, ela vai atrás do que quer. Ainda sobra espaço para alguns momentos cantados em inglês, como My Grandmother Told Me – a primeira canção em inglês de Vanessa – e um cover de Sunshine On My Shoulders, de John Denver, que faz a gente ter vontade de sair andando pelas ruas da cidade, com o sol na cabeça e um sorriso no rosto.
Segue o Som, apesar de ligeiramente diferente, carrega consigo a mesma amplitude e vivacidade que Vanessa da Mata sempre traz em seus discos. E se no passado foi isso que nos deu vontade de seguir seu som a cada novo lançamento, aqui isso não é diferente.
Vanessa da Mata, Segue o Som, 2014.
Produzido por: Kassin e Liminha.
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